LEITURA DE CONTO CONTEMPORÂNEO
Para começo de
conversa...
▪ Vocês já leram algum conto?
▪ De que tipo?
▪ Amor?
▪ Humor?
▪ Ficção científica?de Marina Colasanti.
Para
refletir...
▪ Vocês já leram algum conto com esse título?
▪ Que tipo de assunto esse texto pode tratar?
▪ Quais personagens podem fazer parte dessa história?
▪ O que a palavra espada
sugere sobre o tipo de
personagem?
▪ A palavra rosa pode
sugerir a presença do que na
história. a espada e a
rosORIENTAÇÕES PARA A LEITURA
- ▪ A leitura do conto será realizada em três momentos.
- ▪ Ao final de cada uma das partes, haverá perguntas que deverão ser respondidas oralmente.
- ▪ É necessário que haja silêncio e atenção!
ERA UMA VEZ UM CONTO
Parte
1
Qual é a hora de casar, senão
aquela em que o coração diz “quero”? A hora que o pai escolhe. Isso descobriu a
Princesa na tarde em que o Rei mandou chamá-la e, sem rodeios, lhe disse que,
tendo decidido fazer
aliança com o
povo das fronteiras do Norte,
prometera dá-la em
casamento ao seu chefe.
Se era velho
e feio, que
importância tinha frente
aos soldados que traria
para o reino,
às ovelhas que
poria nos pastos e
às moedas que
despejaria nos cofres?
Estivesse pronta, pois breve o noivo viria buscá-la.
De volta ao quarto, a Princesa
chorou mais lágrimas do que acreditava ter para chorar. Embotada na cama, aos
soluços, implorou ao seu
corpo, a sua
mente, que lhe
fizesse achar uma solução
para escapar da
decisão do pai.
Afinal,
esgotada, adormeceu.
E na noite sua mente ordenou, e no escuro seu corpo ficou.
Parte 2
[...] E ao acordar de manhã, os
olhos ainda ardendo de tanto chorar,
a Princesa percebeu
que algo estranho
se passava. Com quanto medo
correu ao espelho! Com quanto espanto viu cachos ruivos
rodeando-lhe o queixo!
Não podia acreditar, mas era verdade. Em seu rosto, uma
barba havia crescido.
Passou os
dedos lentamente entre
os fios sedosos.
E já estendia a
mão procurando a
tesoura, quando afinal compreendeu. Aquela
era a sua
resposta. Podia vir
o noivo buscá-la. Podia
vir com seus
soldados, suas ovelhas e suas
moedas. Mas, quando a visse, não mais a quereria. Nem ele nem qualquer outro
escolhido pelo Rei.
Salva a filha, perdia-se porém a
aliança do pai. Que tomado de
horror e fúria
diante da jovem
barbada, e alegando
a vergonha que cairia sobre seu reino diante de tal
estranheza,ordenou-lhe abandonar o palácio imediatamente.
A Princesa fez uma trouxa pequena
com suas joias, escolheu um
vestido de veludo
cor de sangue.
E, sem despedidas, atravessou a
ponte levadiça, passando
para o outro
lado do fosso. Atrás
ficava tudo o
que havia sido
seu, adiante estava aquilo que não conhecia.
Na
primeira aldeia aonde
chegou, depois de
muito caminhar, ofereceu-se de
casa em casa
para fazer serviços
de mulher. Porém ninguém quis
aceitá-la porque, com aquela barba, parecia- lhes evidente que fosse homem.
Na segunda aldeia, esperando ter
mais sorte, ofereceu-se para fazer
serviços de homem.
E novamente ninguém
quis aceitá-la porque, com aquele
corpo, tinham certeza de que era mulher.
Cansada mas ainda esperançosa, ao
ver de longe as casas da terceira
aldeia, a Princesa
pediu uma faca
emprestada a um pastor,
e raspou a
barba. Porém, antes
mesmo de chegar,
a barba havia crescido outra vez, mais cacheada, brilhante e rubra.
Então, sem
mais nada pedir,
a Princesa vendeu
suas joias para um
armeiro, em troca
de uma couraça,
uma espada e um elmo. E, tirando do dedo o anel que havia sido de sua
mãe, vendeu-o para um mercador, em troca de um cavalo.
Agora, debaixo
da couraça, ninguém
veria seu corpo, debaixo do
elmo, ninguém veria
sua barba. Montada
a cavalo, espada em
punho, não seria
mais homem, nem mulher. Seria guerreiro.
E
guerreiro valente tornou-se,
à medida que
servia aos Senhores dos castelos
e aprendia a manejar as armas. Em breve,
não havia quem a superasse
nos torneios, nem a
vencesse nas batalhas. A fama da sua coragem espalhava- se por toda parte e a
precedia. Já ninguém recusava seus serviços. A couraça falava mais que o nome.
Pouco se demorava em cada
lugar. Lutava cumprindo seu trato e seu dever, batia-se com lealdade
pelo Senhor. Porém suas vitórias atraíam os olhares da corte, e cedo os
murmúrios começavam a percorrer
os corredores. Quem
era aquele cavaleiro, ousado
e gentil, que
nunca tirava os
trajes de batalha? Por
que não participava
das festas, nem
cantava para as damas? Quando as perguntas se faziam em voz alta, ela
sabia que era chegada a hora de partir. E ao amanhecer montava seu cavalo,
deixava o castelo, sem romper o mistério com que havia chegado.
Somente sozinha, cavalgando no
campo, ousava levantar a viseira para que o vento lhe refrescasse o rosto
acariciando os cachos rubros. Mas tornava a baixá-la, tão logo via tremular na
distância as bandeiras de algum torreão.
Assim, de
castelo em castelo,
havia chegado àquele
governado por um jovem Rei. E fazia algum tempo que ali estava. Desde o
dia em que a
vira, parada diante
do grande portão,
cabeça erguida, oferecendo sua
espada, ele havia demonstrado preferi-la aos outros guerreiros. Era
a seu lado
que a queria
nas batalhas, era
ela que chamava para os
exercícios na sala de armas, era ela sua companhia preferida, seu melhor
conselheiro. Com o tempo, mais
de uma vez, um havia salvo
a vida do
outro. E parecia natural,
como o fluir
dos dias, que suas vidas transcorressem juntas.
Companheiro nas lutas e nas
caçadas, inquietava-se porém o Rei vendo
que seu amigo
mais fiel jamais
tirava o elmo.
E mais ainda inquietava-se, ao
sentir crescer dentro
de si um
sentimento novo, diferente de
todos, devoção mais funda por aquele amigo do que um homem sente
por um homem.
Pois não podia
saber que à
noite, trancado o quarto,
a princesa encostava
seu escudo na
parede, vestia o vestido de veludo vermelho, soltava os cabelos, e
diante do
seu reflexo no metal polido,
suspirava longamente pensando nele.
Muitos dias se passaram em que,
tentando fugir do que sentia, o Rei evitava vê-la. E outros tantos em que,
percebendo que isso não a afastava
da sua lembrança, mandava chamá-la,
para arrepender-se em seguida e
pedia-lhe que se fosse.
Por fim,
como nada disso
acalmasse seu tormento,
ordenou que viesse ter com ele.
E, em voz áspera, lhe disse que há muito tempo tolerava ter a seu lado um
cavaleiro de rosto sempre encoberto. Mas que
não podia mais
confiar em alguém
que se escondia
atrás do ferro. Tirasse
o elmo, mostrasse
o rosto. Ou
teria cinco dias
para deixar o castelo.
Sem resposta, ou gesto, a Princesa
deixou o salão, refugiando-se no
seu quarto. Nunca
o Rei poderia
amá-la, com sua
barba ruiva. Nem mais
a quereria como
guerreiro, com seu
corpo de mulher. Chorou todas as lágrimas que ainda
tinha para chorar. Dobrada sobre si
mesma, aos soluços,
implorou ao seu
corpo que lhe
desse uma solução. Afinal,
esgotada, adormeceu.
E na noite sua mente ordenou, e no escuro seu corpo brotou.
[...]
RESPONDA
1. Você está gostando dessa história? Por quê?
2. Podemos compará-la com um conto de
fadas tradicional?
3. Que parte do enredo mais chamou a atenção até o
momento?
desfecho?
Parte
3
[...] E ao acordar de manhã, com
os olhos inchados de tanto chorar,
a Princesa percebeu
que algo estranho
se passava. Não ousou levar as
mãos ao rosto. Com medo, quanto medo! Aproximou-se do escudo polido, procurou
seu reflexo. E com espanto, quanto espanto!
Viu que, sim,
a barba havia desaparecido. Mas
em seu lugar,
rubras como os
cachos, rosas lhe rodeavam o queixo.
Naquele dia
não ousou sair
do quarto, para
não ser denunciada pelo perfume,
tão intenso, que ela própria sentia- se embriagar de primavera. E perguntava-se
de que adiantava ter trocado a barba por flores, quando, olhando no escudo com
atenção, pareceu-lhe que
algumas rosas perdiam
o viço vermelho, fazendo-se mais
escuras que o
vinho. De fato,
ao
amanhecer, havia pétalas no seu
travesseiro.
Uma após
a outra, as
rosas murcharam, despetalando-se lentamente. Sem que nenhum
botão viesse substituir as flores que se iam. Aos poucos, a rósea pele
aparecia. Até que não houve mais flor alguma. Só um delicado rosto de mulher.
Era chegado
o quinto dia.
A Princesa soltou
os cabelos, trajou seu
vestido cor de
sangue. E, arrastando
a cauda de veludo,
desceu as escadarias
que a levariam
até o Rei, enquanto um perfume de rosas se espalhava
no castelo.
COLASANTI, Marina. Entre a espada e a rosa. Rio de
Janeiro: Salamandra,1992.
Sobre o desfecho...
O conto é finalizado antes do encontro entre a
princesa e o Rei. Ele tem o final aberto.
1. O
que acharam do
desfecho? Conseguem imaginar o
que aconteceu depois que a princesa encontra o Rei.
2. Qual a diferença do encerramento dessa história para um
conto de fadas
conhecido? Por que vocês acham que a autora não terminou a história com
o famoso clichê
“E viveram felizes
Sobre o
desfecho...
3. Vocês acham que a Princesa vai
simplesmente deixar o posto de guerreira
que conseguiu pelo seu amor ao jovem Rei?
4. Vocês conseguem comparar a personagem principal da
história com alguma personagem de
filme de animação? Qual?
1. O que há de comum no comportamento das duas personagens protagonistas?
2. Como podemos relacionar o perfil dessas personagens com
o papel da
mulher na sociedade atual?
eu sou 6-a qual página
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