quarta-feira, 6 de maio de 2020

9 ano B - Língua Portuguesa - Leitura e interpretação de conto



LEITURA DE CONTO CONTEMPORÂNEO

Para começo de conversa...

   Vocês já leram algum conto?

   De que tipo?

   Amor?

   Humor?

   Ficção científica?de Marina Colasanti.


Para refletir...

   Vocês já leram algum conto com esse título?
   Que tipo de assunto esse texto pode tratar?
   Quais personagens podem fazer parte dessa história?
   O que a palavra espada sugere sobre o tipo de
personagem?
   A palavra rosa pode sugerir a presença do que na
história. a espada e a

rosORIENTAÇÕES PARA A LEITURA
  •    A  leitura  do  conto  será  realizada  em  três momentos.

  •   Ao  final  de  cada  uma  das  partes,  haverá perguntas   que deverão ser respondidas oralmente. 

  •    É necessário que haja silêncio e atenção!


 ERA UMA VEZ UM CONTO

Parte 1
Qual é a hora de casar, senão aquela em que o coração diz “quero”? A hora que o pai escolhe. Isso descobriu a Princesa na tarde em que o Rei mandou chamá-la e, sem rodeios, lhe disse  que,  tendo  decidido  fazer  aliança  com  o  povo  das fronteiras  do  Norte,  prometera  dá-la  em  casamento  ao  seu chefe.  Se  era  velho  e  feio,  que  importância  tinha  frente  aos soldados  que  traria  para  o  reino,  às  ovelhas  que  poria  nos pastos  e  às  moedas  que  despejaria  nos  cofres?  Estivesse pronta, pois breve o noivo viria buscá-la.
De volta ao quarto, a Princesa chorou mais lágrimas do que acreditava ter para chorar. Embotada na cama, aos soluços, implorou  ao  seu  corpo,  a  sua  mente,  que  lhe  fizesse  achar uma   solução   para   escapar   da   decisão   do   pai.   Afinal,
esgotada, adormeceu.

E na noite sua mente ordenou, e no escuro seu corpo ficou.


Parte 2
[...] E ao acordar de manhã, os olhos ainda ardendo de tanto chorar,  a  Princesa  percebeu  que  algo  estranho  se  passava. Com quanto medo correu ao espelho! Com quanto espanto viu cachos  ruivos  rodeando-lhe  o  queixo!  Não  podia  acreditar, mas era verdade. Em seu rosto, uma barba havia crescido.
Passou  os  dedos  lentamente  entre  os  fios  sedosos.  E  já estendia   a    mão   procurando    a    tesoura,    quando    afinal compreendeu.  Aquela  era  a  sua  resposta.  Podia  vir  o  noivo buscá-la.  Podia  vir  com  seus  soldados, suas  ovelhas  e  suas moedas. Mas, quando a visse, não mais a quereria. Nem ele nem qualquer outro escolhido pelo Rei.
Salva a filha, perdia-se porém a aliança do pai. Que tomado de  horror  e  fúria  diante  da  jovem  barbada,  e  alegando  a vergonha que cairia sobre seu reino diante de tal estranheza,ordenou-lhe abandonar o palácio imediatamente.


A Princesa fez uma trouxa pequena com suas joias, escolheu um   vestido   de   veludo   cor   de   sangue.   E,   sem   despedidas, atravessou  a  ponte  levadiça,  passando  para  o  outro  lado  do fosso.  Atrás  ficava  tudo  o  que  havia  sido  seu,  adiante  estava aquilo que não conhecia.
Na  primeira  aldeia  aonde  chegou,  depois  de  muito  caminhar, ofereceu-se  de  casa  em  casa  para  fazer  serviços  de  mulher. Porém ninguém quis aceitá-la porque, com aquela barba, parecia- lhes evidente que fosse homem.
Na segunda aldeia, esperando ter mais sorte, ofereceu-se para fazer  serviços  de  homem.  E  novamente  ninguém  quis  aceitá-la porque, com aquele corpo, tinham certeza de que era mulher.
Cansada mas ainda esperançosa, ao ver de longe as casas da terceira  aldeia,  a  Princesa  pediu  uma  faca  emprestada  a  um pastor,  e  raspou  a  barba.  Porém,  antes  mesmo  de  chegar,  a barba havia crescido outra vez, mais cacheada, brilhante e rubra.

Então,  sem  mais  nada  pedir,  a  Princesa  vendeu  suas joias  para  um  armeiro,  em  troca  de  uma  couraça,  uma espada e um elmo. E, tirando do dedo o anel que havia sido de sua mãe, vendeu-o para um mercador, em troca de um cavalo.
Agora,  debaixo  da  couraça,  ninguém  veria  seu  corpo, debaixo  do  elmo,  ninguém  veria  sua  barba.  Montada  a cavalo,  espada  em  punho,  não  seria  mais  homem,  nem mulher. Seria guerreiro.
E  guerreiro  valente  tornou-se,  à  medida  que  servia  aos Senhores dos castelos e aprendia a manejar as armas. Em breve,  não  havia  quem  a  superasse  nos  torneios,  nem  a vencesse nas batalhas. A fama da sua coragem espalhava- se por toda parte e a precedia. Já ninguém recusava seus serviços. A couraça falava mais que o nome.
Pouco se demorava em  cada  lugar. Lutava cumprindo seu trato e seu dever, batia-se com lealdade pelo Senhor. Porém suas vitórias atraíam os olhares da corte, e cedo os murmúrios começavam  a  percorrer  os  corredores.  Quem   era  aquele cavaleiro,  ousado  e  gentil,  que  nunca  tirava  os  trajes  de batalha?  Por  que  não  participava  das  festas,  nem  cantava para as damas? Quando as perguntas se faziam em voz alta, ela sabia que era chegada a hora de partir. E ao amanhecer montava seu cavalo, deixava o castelo, sem romper o mistério com que havia chegado.
Somente sozinha, cavalgando no campo, ousava levantar a viseira para que o vento lhe refrescasse o rosto acariciando os cachos rubros. Mas tornava a baixá-la, tão logo via tremular na distância as bandeiras de algum torreão.
Assim,  de  castelo  em  castelo,  havia  chegado  àquele  governado por um jovem Rei. E fazia algum tempo que ali estava. Desde o dia em  que  a  vira,  parada  diante  do  grande  portão,  cabeça  erguida, oferecendo sua espada, ele havia demonstrado preferi-la aos outros guerreiros.  Era  a  seu  lado  que  a  queria  nas  batalhas,  era  ela  que chamava para os exercícios na sala de armas, era ela sua companhia preferida, seu melhor conselheiro.  Com o  tempo, mais  de uma  vez, um  havia salvo  a  vida  do  outro.  E parecia  natural,  como  o  fluir  dos dias, que suas vidas transcorressem juntas.
Companheiro nas lutas e nas caçadas, inquietava-se porém o Rei vendo  que  seu  amigo  mais  fiel  jamais  tirava  o  elmo.  E  mais  ainda inquietava-se,  ao  sentir  crescer  dentro  de  si  um  sentimento  novo, diferente de todos, devoção mais funda por aquele amigo do que um homem  sente  por  um  homem.  Pois  não  podia  saber  que  à  noite, trancado  o  quarto,  a  princesa  encostava  seu  escudo  na  parede, vestia o vestido de veludo vermelho, soltava os cabelos, e diante do
seu reflexo no metal polido, suspirava longamente pensando nele.
Muitos dias se passaram em que, tentando fugir do que sentia, o Rei evitava vê-la. E outros tantos em que, percebendo que isso não a afastava  da  sua  lembrança, mandava  chamá-la,  para  arrepender-se em seguida e pedia-lhe que se fosse.
Por  fim,  como  nada  disso  acalmasse  seu  tormento,  ordenou  que viesse ter com ele. E, em voz áspera, lhe disse que há muito tempo tolerava ter a seu lado um cavaleiro de rosto sempre encoberto. Mas que  não  podia  mais  confiar  em  alguém  que  se  escondia  atrás  do ferro.  Tirasse  o  elmo,  mostrasse  o  rosto.  Ou  teria  cinco  dias  para deixar o castelo.
Sem resposta, ou gesto, a Princesa deixou o salão, refugiando-se no  seu  quarto.  Nunca  o  Rei  poderia  amá-la,  com  sua  barba  ruiva. Nem  mais  a  quereria  como  guerreiro,  com  seu  corpo  de  mulher. Chorou todas as lágrimas que ainda tinha para chorar. Dobrada sobre si  mesma,  aos  soluços,  implorou  ao  seu  corpo  que  lhe  desse  uma solução. Afinal, esgotada, adormeceu.
 E na noite sua mente ordenou, e no escuro seu corpo brotou. [...]

RESPONDA

1.  Você está gostando dessa história? Por quê?
2.   Podemos compará-la com um conto de fadas tradicional?
3.  Que parte do enredo mais chamou a atenção até o
momento?
 4.  O que você imagina que irá acontecer no
desfecho?

Parte 3
[...] E ao acordar de manhã, com os olhos inchados de tanto chorar,  a  Princesa  percebeu  que  algo  estranho  se  passava. Não ousou levar as mãos ao rosto. Com medo, quanto medo! Aproximou-se do escudo polido, procurou seu reflexo. E com espanto,   quanto   espanto!   Viu   que,   sim,   a   barba   havia desaparecido.  Mas  em  seu  lugar,  rubras  como  os  cachos, rosas lhe rodeavam o queixo.
Naquele   dia   não   ousou   sair   do   quarto,   para   não   ser denunciada pelo perfume, tão intenso, que ela própria sentia- se embriagar de primavera. E perguntava-se de que adiantava ter trocado a barba por flores, quando, olhando no escudo com atenção,   pareceu-lhe   que   algumas   rosas   perdiam   o   viço vermelho, fazendo-se  mais  escuras  que  o  vinho.  De  fato,  ao
amanhecer, havia pétalas no seu travesseiro.


Uma  após  a  outra,  as  rosas  murcharam,  despetalando-se lentamente. Sem que nenhum botão viesse substituir as flores que se iam. Aos poucos, a rósea pele aparecia. Até que não houve mais flor alguma. Só um delicado rosto de mulher.
Era  chegado  o  quinto  dia.  A  Princesa  soltou  os  cabelos, trajou  seu  vestido  cor  de  sangue.  E,  arrastando  a  cauda  de veludo,  desceu  as  escadarias  que  a  levariam  até  o  Rei, enquanto um perfume de rosas se espalhava no castelo.



COLASANTI, Marina. Entre a espada e a rosa. Rio de
Janeiro: Salamandra,1992.


Sobre o desfecho...

O conto é finalizado antes do encontro entre a
princesa e o Rei. Ele tem o final aberto.


1.    O   que   acharam   do   desfecho?   Conseguem imaginar o que aconteceu depois que a princesa encontra o Rei.
2.  Qual a diferença do encerramento dessa história para  um  conto  de  fadas  conhecido? Por que vocês acham que a autora não terminou a história  com  o  famoso  clichê  “E  viveram  felizes


Sobre o desfecho...


3. Vocês acham que a Princesa vai simplesmente deixar o posto de  guerreira que conseguiu pelo seu amor ao jovem Rei?

4.  Vocês conseguem comparar a personagem principal da história com alguma personagem de filme de animação? Qual?

 ATIVIDADE NO CADERNO
1.  O que há de comum no comportamento das duas personagens protagonistas?

2.  Como  podemos relacionar o  perfil dessas personagens  com  o  papel  da  mulher  na sociedade atual?

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